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Novos projetos para antigos problemas de aprendizado

Obras como a Escola Estadual de Itanhaém e a própria Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), projetadas por João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi em São Paulo entre 1959 e 1969, são apenas um pequeno recorte de como a educação pode se apropriar da arquitetura para oferecer aos alunos algo além de grade horária, planos de aula fechados e espaços desconexos, pouco acolhedores e enquadrados em padrões que não respondem mais às demandas pedagógicas atuais.

Escola Estadual de Itanhaém – Arquivo fotográfico da Fundação Vilanova Artigas/divulgação
FAU-USP – Foto: Fernando Stankuns/Flickr

Mesmo com um legado de mais de meio século, o debate sobre como proporcionar espaços que alavanquem a humanização, a aprendizagem, o senso de pertencimento, a memória e a criatividade nas escolas ainda está em pauta. 

Um estudo da Fundação Carlos Chagas (FCC) com base em dados do Censo Escolar 2011 constatou que 44% das escolas brasileiras, na época, contavam com uma infraestrutura “elementar”. Ou seja, ofereciam apenas o mínimo: água, sanitários, energia, rede de esgoto e cozinha. 

O partido arquitetônico adotado pela grande maioria delas, em especial as públicas (de acordo com o Censo Escolar 2018, elas representam hoje 77% das escolas brasileiras), parte de ambientes engessados, que repetem padrões pedagógicos centenários e um conjunto de normas técnicas firmadas pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para balizar a construção desses prédios. 

O resultado são escolas com pouca diversidade de espaços de convivência e aprendizagem, ambientes inflexíveis, problemas acústicos e de ventilação e iluminação naturais e, sobretudo, pouco estimulantes. 

Fora da caixa
Felizmente, o debate tem despertado a atenção não só de arquitetos, mas também das instituições de ensino. Na esfera pública, um bom exemplo é a Escola Estadual Jardim Morro Doce, com obra concluída em 2011 na zona norte paulistana. O projeto desenhado pelos escritórios Helena Ayoub Silva & Arquitetos e SIAA Arquitetos Associados chega até a contornar, discretamente, algumas regras fixadas pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), como a largura estabelecida para os corredores de circulação. 

Foto: pregnolato & kusuki fotografias

Além de se apropriar da topografia irregular do terreno com um edifício pavilhonar alongado, o corredor central de circulação com 5,4 metros de largura é interrompido nas áreas de circulação vertical para minimizar o efeito de túnel, onde foram instaladas telhas translúcidas para favorecer a iluminação natural do prédio. No terceiro e último andar, onde ficam as áreas de recreio, cozinha e refeitório, recortes nas faces do edifício revelam a área externa.

Foto: pregnolato & kusuki fotografias

Digno de prêmio
O projeto para novas moradas infantis dos alunos da Unidade Escolar Canuanã, em Tocantins, ganhou o título de “melhor edifício de arquitetura educacional do mundo” concedido pelo RIBA Internacional Prize 2018. Mantida pela Fundação Bradesco há quase 40 anos, a escola hoje abriga cerca de 800 jovens entre 7 e 18 anos. 

O projeto, de autoria do arquiteto Marcelo Rosenbaum em parceria com o escritório Aleph Zero e o Instituto A Gente Transforma, contou com a coautoria das próprias crianças matriculadas no internato e do corpo pedagógico da Fundação Bradesco para garantir uma planta que resgatasse o senso de pertencimento, o conforto e a privacidade aos alunos. 

Foto: Leonardo Finotti

Com estrutura mista feita em concreto e madeira laminada colada local, matéria-prima abundante no município do Formoso do Araguaia, o prédio organiza as relações entre o público e o privado, criando espaços de convívio entre o coletivo, a natureza e o indivíduo, reconectando os usuários às suas origens e ao ecossistema de entorno. 

Foto: Leonardo Finotti

Os dormitórios estão agrupados em estruturas de tijolos de barro sem cozimento fabricados na própria obra com a terra da fazenda, que foram assentados como muxarabis nas áreas de serviço, repetindo o padrão das casas da região e criando conforto térmico eficiente aos alojamentos. 

Foto: Leonardo Finotti

Foto de capa: Moradas Infantis Canuanã/Leonardo Finotti

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